Volta e meia aparece, de novo, o velho argumento de que é uma hipocrisia comer bifes e não aceitar as touradas. Eu não como carne (e até já tive problemas de saúde por causa disso) mas respeito quem a come. Comer carne faz parte da natureza humana. Quanto muito, podem dizer que eu estou a ir contra a minha natureza por prescindir dela. Aceito isso. Mas as pessoas que comem animais não são obrigadas a aceitar e, muito menos, a gostar que lhes seja infligida dor.
Quem come carne e não gosta de touradas, quer que os animais tenham uma morte rápida e indolor e é contra as péssimas condições em que os bovinos, para consumo humano, são criados. Acontece, porém, que essa é outra luta. E uma não invalida a outra. Nós não somos, apenas, contra as corridas de touros, também somos contra a podridão da indústria da carne…
Matar para comer é a lei da natureza. Magoar por prazer, não! Dizer que aquele animal vai virar um bife no meu prato, não pode justificar que eu aprecie vê-lo a ser magoado. Senão, vejamos:
- é justificável pegar numa ave e espetá-la, com alfinetes ou agulhas, porque se gosta de arroz de pato ou de arroz de cabidela?
- é justificável pontapear memés porque se come borrego?
- é justificável esmurrar caprinos porque se come cabrito, no Natal?
(É que se for, tenho de ter cuidado se me vir envolvido numa luta, não vá aquilo ser um ritual prévio de canibalismo...)
Então qual é a lógica de meter arpões num touro com a justificação de que ele vai ser comido?
Das duas uma, ou quem defende as touradas, defende este tipo de maus-tratos a qualquer animal, desde que ele vire repasto ou, então, o argumento dos bifes não se aplica na legitimação das touradas. Caso, a hipótese correcta seja a primeira e os aficionados venham alegar que tudo é válido, desde que o fim seja a alimentação, então, temos de admitir que o seu grau de crueldade é assustador.
Não viveríamos num mundo melhor se os animais não tivessem de sofrer, antes de irem parar aos pratos?
Repito: conhecemos as condições em que os bovinos da indústria alimentar são criados e sabemos que são muito piores do que aquelas em que os touros o são, mas uma coisa não prejudica a outra. Não podemos justificar uma coisa má com a existência de outra coisa pior. Isso seria o mesmo que, e.g., não combater a precariedade laboral porque, nos dias de hoje, ainda há casos de escravatura que vão sendo revelados.
“Eu como bifes e, por isso, posso gostar de corridas de touros.”
Quando somos pequenos, os pais costumam ensinar que não se pode andar descalço no chão frio, que se tem de lavar as mãos antes de ir para a mesa e que NÃO SE BRINCA COM A COMIDA.
Então qual é a lógica de meter arpões num touro com a justificação de que ele vai ser comido?
Das duas uma, ou quem defende as touradas, defende este tipo de maus-tratos a qualquer animal, desde que ele vire repasto ou, então, o argumento dos bifes não se aplica na legitimação das touradas. Caso, a hipótese correcta seja a primeira e os aficionados venham alegar que tudo é válido, desde que o fim seja a alimentação, então, temos de admitir que o seu grau de crueldade é assustador.
Não viveríamos num mundo melhor se os animais não tivessem de sofrer, antes de irem parar aos pratos?
Repito: conhecemos as condições em que os bovinos da indústria alimentar são criados e sabemos que são muito piores do que aquelas em que os touros o são, mas uma coisa não prejudica a outra. Não podemos justificar uma coisa má com a existência de outra coisa pior. Isso seria o mesmo que, e.g., não combater a precariedade laboral porque, nos dias de hoje, ainda há casos de escravatura que vão sendo revelados.
“Eu como bifes e, por isso, posso gostar de corridas de touros.”
Quando somos pequenos, os pais costumam ensinar que não se pode andar descalço no chão frio, que se tem de lavar as mãos antes de ir para a mesa e que NÃO SE BRINCA COM A COMIDA.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Pense bem no que quer responder ao Tourinho... ou leva uma cornada!